quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Teogonia, Cosmogonia  e Antropogonia 
Papus 
O Tarô dos Boêmios 

Segunda Parte

            Existe um tema que Papus trata no livro "O Tarô dos Boêmios" que é muito importante para a compreensão do papel de quem interpreta as lâminas do oráculo e de quem as consulta. É fundamental a Intuição, o dom e a sensibilidade, isto é indiscutível,  são pré-requisitos para que o jogo seja bom, adicionados aos conhecimentos profundos do sacerdote,   o resultado é insuperável. 
Estou falando dos conceitos e aplicações dos aspectos superlativos da Teogonia, relativos da Cosmogonia e objetivos da Androgonia,  pois estão diretametne relacionados  com as interpretações das lâminas e como visionar a leitura do conjunto do oráculo. 
           Papus não explica como fazer isso de forma didática, expõem os fatos, mas não deixa claro como aplicá-los, isso é proposital, é assim que se explica algo esotericamente, descrevendo sem abrir todo os detalhes do conhecimento, fazendo com que o neófito o busque. 
           A partir deste momento estaremos focados no Simbolismo do Tarô, pois é neste item  que Papus o torna iniciático,  pois trata da aplicação da chave geral, principalmente do Grande Arcano, deixando claro a figura emblemática do masculino e do feminino, positivo e negativo, os quatro elementos e alguns símbolos que funcionam na montagem das chaves que abrirão estes segredos.


Figura, em síntese, das chaves dos Grandes Arcanos 


             Na explanação, Papus insiste que quer evitar o empirismo, enfatizando que por este motivo, na primeira parte do livro, direcionou para o  "elemento mais fixo, mais invariável de suas combinações, o número". Na sequência segue orientando que "o Tarô representa a ciência antiga em todos os seus desdobramentos... Portanto, se quisermos encontrar uma base sólida para o estudo dos símbolos representados nos vinte e dois arcanos maiores, precisamos deixar um pouco de lado nosso Tarô e dirigirmos-nos a essa ciência antiga". Neste momento Papus deixa claro que o Tarô é um meio, uma dialética, mas que existe algo maior, superior, na realidade conhece a existência do Arqueômetro ou da Tábua de Esmeralda de Hermes, por isso afirma: "somente ela pode  dar-nos os meios de atingir nosso objetivo; isso não será feito achando nela a explicação dos símbolos, mas através de nossa atitude de criá-los um a um, deduzindo-os de princípios fixo e gerais". 
           Neste momento conclama o doutro do oráculo a não utilizá-lo decorando suas lâminas e símbolos, e afirma: "vamos realizar assim um tipo de trabalho totalmente novo, evitando, tanto quanto possível, incidir nos erros decorrentes da ideia de querer explicar o símbolos do Tarô por eles mesmos, em lugar de procurar a sua razão de ser na fonte original".  Essa explicação diz muita coisa, principalmente que a construção arquetípica das lâminas tem suas origens nas culturas oraculares sacerdotais, pois estes são os detentores dos saberes primevos. Apesar disso dedica todo um capítulo à descrição simbólica de cada uma das lâminas dos Arcanos Maiores, o que evidencia, também, a importância dos símbolos. 


            
                                           Teogonia, Cosmogonia e Androgonia
              O estudo do Tarô de Papus evidencia três aspectos importantes da forma de ver os assuntos iniciáticos: a Teogonia, a Cosmogonia e a  Androgonia, que estão diretamente relacionados com as visões superlativas, relativas  e objetivas. 
             Então é fundamental entender do que se trata essa visão diferenciada de Papus sobre as lâminas do Tarô. 

Teogonia ou Superlativo
Trata dos aspectos relacionados ao divino, ao incriado, ao infinito, é a leitura oracular que relaciona o indivíduo ou a situação às consequências divinas. Esta leitura do Tarô é tão profunda que Papus a correlacionou com as origens criadoras de diversas correntes do pensamento religioso, dividindo-as em três:
1) Deus Pai - Osíris - Brahma - Júpiter
     Simboliza a atividade absoluta, as lâminas observadas neste nível tratam diretamente da visão sobre o que oráculo fala da vida no plano divino, o princípio masculino, a semente original e qual seria a origem e a finalidade da vida no sagrado.
2) Deus Filho - Ísis - Vishinu - Juno
    Simboliza a passividade, a parte feminina deste princípio, o eterno feminino, as lâminas analisadas pelo lado receptivo do sagrado, criador, reprodutivo, o que o beneficiado pela consulta ao oráculo pode fazer neste plano de infinita reprodução.
3) Deus Espírito Santo - Hórus - Shiva
    Aqui encontramos a junção das duas forças anteriores, o criado, a manifestação do sagrado na vida da humanidade, resultado da trindade, as três forças que se completam. 


Essa leitura pode ser realizada para qualquer um que queira consultar o oráculo, mas prevalece a ideia que seja utilizada intensamente para os iniciados dos mistérios, indivíduos que buscam outro grau de entendimento,  os efeitos do seu magnetismo nas lâminas e o que dizem sobre o plano espiritual. Portanto, a leitura das lâminas, vista sob o aspecto da Teogonia, envolve elementos distantes do mundo material, por isso recebe a definição de que se trata de aspectos superlativos, ou seja, extra sensoriais, extra físico, imperceptível aos olhos de quem vive no lado comum da vida. 
Normalmente, essas chaves são tão complexas que as pessoas as  vêem nos livros e não conseguem decifrar seus códigos, pois estão relacionadas à visão Teogônica e à Cosmogônica, como veremos a seguir. 
Cosmogonia ou Relativo
O  próprio Papus indica que esta segunda visão é um degrau abaixo da primeira, quando diz que "à medida que vamos descendo os degraus das emanações do Ser Absoluto, os princípios vão ficando mais materiais e, portanto, menos metafísicos. O Tarô nos ensina que o Universo resulta da participação do humano nos atos criadores do divino". A cosmogonia trata do espírito manifesto nas diversas camadas dos mundos existentes no Cosmo, mas ainda não diz respeito à vida terrena. Trata das moradas das almas e das influências sofridas por estes seres neste campo da manifestação divina através do bailado cósmico, simboliza a visão esquemática da Astrologia, por exemplo. Também está relacionada à Queda dos Espíritos, seres oriundos dos planos divinos, imateriais, manifestos no Cosmo, em suas diversas dimensões e influências. A partir deste ponto a leitura do Tarô é mais comum, pois trata de um processo perceptível a boa parte dos humanos, mas muitas vezes ainda falta alcance, pois a maioria quer saber de assuntos mais corriqueiros, isto pode ser visto na leitura da Androgonia oracular. 



Androgonia ou Objetivo
Papus foi sábio quando afirmou que o ser humano  "contém em si um Adão fonte da vontade, uma Eva fonte da inteligência e deve equilibrar o coração com o cérebro e o cérebro com o coração para tornar-se um centro de amor divino". A leitura androgônica do Tarô trata do ser encarnado, na matéria, com suas mazelas e incongruências, caminhos e alternativas para viver melhor, pois neste plano encontra-se, também, manifesto os princípios Teogônicos e Cosmogônicos, pois é impossível separá-los, pois trata-se de uma via de mão dupla.



A capacidade do sacerdote ou da sacerdotisa, entenda como quiser, pode ser cartomante,  é o que distingue, invariavelmente, o que dizem as cartas, tudo contido no ritual e como irá interpretá-las. O ambiente bem constituído favorece muito o ritual,  sem fugir da máxima: "você tem fome de quê"? Tudo depende da qualidade daquilo que se busca e de quem se propõem a colocar as lâminas sagradas, pois trata-se de um ato sacerdotal, o que define a amplitude é a visão de quem manipula esta sabedoria oracular, quanto mais conhecimento dos aspectos Teogônicos, Cosmogônicos e Antropogônicos, mais completa será a leitura e interpretação do oráculo. Quanto mais preparado estiver a mente dos consulentes maiores serão as possibilidades de se acessar as profundezas de suas revelações, pois somos produto do sagrado, a manifestação do micro no macro.
Luz e paz





  
           

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